OBEDUC

Ensino, saberes e tradição: elementos a compartilhar nas escolas da

Terra Indígena Xapecó/SC – Edital 049/2012/CAPES/INEP

Vigência: 2013 – 2017

Coordenação: Ana Lúcia Vulfe Nötzold

Introdução

O presente projeto visa o desenvolvimento de pesquisas nas escolas da Terra Indígena Xapecó, situada nos municípios de Ipuaçú e Entre Rios, no oeste do estado de Santa Catarina. A população é majoritariamente Kaingáng (5.105 pessoas) e possui um grupo Guarani (111 pessoas). A Terra Indígena é composta por 15 aldeias distribuídas numa área de 15.623 hectares. São ao todo 09 escolas para atender a população, das quais 06 são escolas multisseriadas e apenas uma delas atende ao ensino médio. Pretende-se realizar um levantamento das práticas tradicionais Kaingáng relacionadas à identidade étnica e cultural nos conteúdos curriculares visando à elaboração de material didático bilíngue, específico e diferenciado para o auxílio das práticas pedagógicas na sala de aula, na formação de professores, do currículo para o Ensino Fundamental com ênfase nas séries iniciais e alfabetização. O desenvolvimento, as atividades de execução e os relatórios do projeto estão previstos para 04 anos de duração, compreendendo de 2013 a 2017 e envolverá todos os professores e alunos da abrangência da T.I., lideranças, equipe de coordenação, bolsistas e colaboradores eventuais. Serão realizadas oficinas pedagógicas com os professores da T.I. e convidados com experiência específica visando a confecção e produção de material didático e acadêmico abrangendo os temas: rituais, ervas medicinais, ciclos de vida, alimentação, formas de uso da matemática, entre outros. A escola tem se apresentado como um espaço de revitalização e fortalecimento da cultura.

Esta pesquisa abrange as relações de ensino e aprendizagem no contexto da Educação Escolar Indígena visando o fortalecimento das tradições e elementos de identidade étnica e cultural do povo Kaingáng. Pretende-se dar um enfoque especial na formação de professores indígenas e na elaboração e produção de material didático com o intuito de contribuir para a elevação dos índices de aprendizagem dos alunos da TI, melhorando assim os índices de avaliação da Educação no SAEB/INEP. A pesquisa pretende alcançar uma qualidade de ensino e aprendizagem com conteúdos significativos e relevantes à promoção da qualidade de vida e ao desenvolvimento sustentável das famílias e consequentemente da comunidade. O ensino de qualidade é uma preocupação das lideranças tradicionais e professores Kaingáng que buscam estratégias de ensino e aprendizagem eficazes para este fim. Neste sentido, o Cacique, principal liderança da TI solicitou que a UFSC, através do Laboratório de História Indígena pudesse desenvolver projetos visando elaboração de material didático no intuito de modificar o quadro apresentado nas últimas avaliações SAEB/IDEB/INEP. Esta preocupação é latente também entre os professores da EIEB Cacique Vanhkrê, conforme solicitações em uma das oficinas realizadas no ano de 2012, durante o Observatório da Educação Escolar Indígena (Relatório LABHIN, 2012 (Mímeo). Com o presente projeto serão atendidos 1443 alunos (CENSO ESCOLAR/SED/SC, 2012), distribuídos em 09 escolas presentes na Terra Indígena Xapecó, das quais uma oferece todos os níveis de Educação Básica sendo a maior escola do Estado (EIEB Cacique Vanhkrê). Duas escolas oferecem o Ensino Fundamental completo atendendo comunidades mais distantes da aldeia sede que são a EIEF Paiol de Barro e a EIEF Pinhalzinho. As demais escolas da TI são multisseriadas e entre elas, uma escola atende a comunidade Guarani Mbya Limeira que se situa no interior da TI. Participarão deste projeto 75 professores, lideranças, SED e FUNAI.

Objetivo geral do projeto

Realizar um levantamento das práticas tradicionais Kaingáng relacionadas à identidade étnica e cultural nos conteúdos curriculares visando à elaboração de material didático bilíngue, específico e diferenciado para o auxílio das práticas pedagógicas na sala de aula, no currículo para o Ensino Fundamental com ênfase nas séries iniciais e alfabetização, contribuindo na qualificação dos professores no seu processo cotidiano de ensino.

Objetivos específicos do projeto

– Elaborar um instrumento de levantamento de dados para ser aplicado aos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental;

– Aplicar o instrumento elaborado com os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental;

– Elaborar e aplicar entrevistas com as pessoas mais idosas da comunidade a respeito dos costumes e práticas tradicionais possíveis de serem acrescentadas ao Currículo escolar de Ensino Fundamental e Médio;

– Identificar os níveis de aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental a partir dos dados do SAEB/INEP e Censo Escolar, Sistema de Gestão Educacional de Santa Catarina/SISGESC;

– Realizar oficinas pedagógicas com todos os professores das escolas da Terra Indígena Xapecó para confecção, elaboração e publicação de materiais específicos abrangendo temas como ervas medicinais, ciclos de vida, costumes e rituais, alimentação, formas de uso da matemática, entre outros;

– Elaborar materiais pedagógicos bilíngues auxiliares às práticas pedagógicas na sala de aula;

– Acompanhar o processo de alfabetização das crianças que estão nos anos iniciais do Ensino Fundamental nas escolas referidas;

– Auxiliar os professores alfabetizadores participantes do PNAIC, na complementação de atividades e adequação à realidade da Educação Escola Indígena.

– Reestruturar o Projeto Político Pedagógico das escolas indígenas da Terra Indígena visando uma matriz curricular que considere os princípios legais da Educação Escolar Indígena;

– Promover intercâmbio e troca de experiências pedagógicas exitosas entre os professores das escolas da TI de Xapecó e os acadêmicos do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena/UFSC;

– Desenvolver as pesquisas de mestrado e doutorado ligadas ao projeto junto às pessoas mais idosas da TI Xapecó;

– Elaborar artigos científicos acadêmicos para revistas, Simpósios, Seminários, Sites visando à divulgação dos resultados das pesquisas.

Metodologia

As formas de atuação nas comunidades indígenas e consequentemente nas escolas presentes nas aldeias devem seguir a lógica do que preconiza a Educação Escolar Indígena, portanto, de forma diferenciada. Serão realizadas saídas de campo a TI Xapecó com visita às escolas para reuniões de apresentação do projeto à comunidade e na sequência realizar oficinas, entrevistas, coleta de dados, aplicação dos instrumentos de pesquisa, com a equipe de acadêmicos bolsistas, mestrandos e doutorandos, professores indígenas bolsistas e coordenação para levantamento de dados e assessoramento na proposição das atividades pertinentes ao projeto.

A pesquisa seguirá os pressupostos teóricos e metodológicos da Etnohistória, valorizando as sociedades onde predomina o saber que se dá oralmente, com distintos modos de institucionalização da memória. A etnohistória é desenvolvida a partir da valorização da tradição oral e da memória coletiva, indo além das fontes escritas. Como afirma Manuela Carneiro da Cunha, “cabe restabelecer a importância da memória indígena, transmitida por tradição oral, recolhendo-a, dando-lhe voz e legitimidade em justiça” (CUNHA, 1992, p. 22). Nesse sentido se utilizará a metodologia de História Oral através de entrevistas. Serão realizadas até 06 (seis) idas a campo a cada ano que terão como objetivos a coleta de dados nas escolas, a realização de entrevistas com as pessoas mais velhas da comunidade, direções das escolas, professores e membros da comunidade escolar. As idas da equipe executora do Projeto à TI Xapecó  serão também para a realização das oficinas de elaboração e produção de material didático e de apoio e serão realizadas nos espaços das escolas indígenas. Nessas ocasiões serão feitas as consultas ao SISGESC da escola para coleta de dados pertinentes ao Projeto. Além disso, a equipe observará se o povo indígena consegue relacionar o ensino convencional escolar com o ensino das tradições (culturais, linguísticas, corporais, medicinais, religiosas…).

Serão desenvolvidas diversas atividades, as quais estão abaixo relacionadas e descritas:

– Reuniões com:

  • Direção, bolsistas e lideranças da TI – serão realizadas para apresentação do projeto e sempre que a equipe e coordenação sentir necessidade no decorrer da pesquisa;
  • Bolsistas professores das escolas – são fundamentais para o desenvolvimento das atividades na escola;
  • Acadêmicos bolsistas – para coordenação e gerenciamento das atividades realizadas em todas as etapas do Projeto: organização e sistematização de dados; consulta aos Sistemas de informação das Escolas, arquivos; análises dos PPPs das escolas; elaboração de instrumentos de pesquisa como questionários e entrevistas.

– Oficinas Pedagógicas:

Serão realizadas com os professores das escolas – inicialmente com os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental e no decorrer com os demais – serão utilizadas para elaboração de material bilíngue para uso na sala de aula a partir dos elementos identitários, culturais e da tradição do povo Kaingáng.

– Seminários:

Serão realizados seminários com comunicações orais, avaliação do processo, mesas redondas aberto à comunidade acadêmica sobre as temáticas elegidas na Projeto.

– Participação em eventos:

São Simpósios, Encontros, Seminários, Semanas de Ensino e Pesquisa que acontecerão no período de execução do projeto, nos quais serão apresentados artigos, dados e resultados das pesquisas realizadas;

Divulgação e Publicação:

Serão utilizados os sites da UFSC e da Secretaria de Estado da Educação para divulgação das principais atividades realizadas pela equipe do Projeto. Serão enviados artigos científicos e acadêmicos com os resultados parciais e finais do Projeto a revistas, anais e outros que versam nas áreas privilegiadas no projeto.

 

Resultados Esperados

1. Fortalecimento da articulação entre UFSC/LABHIN e escolas indígenas da T. I. Xapecó.

2. Formação de pesquisadores nas temáticas da história e cultura indígena e suas relações com o currículo escolar.

3. Ampliação da relação entre pós-graduação, graduação (licenciatura Intercultural) e escola indígena.

4. Produção e impressão de material didático pedagógico específico, diferenciado e bilíngue para o uso no cotidiano da sala de aula.

5. Produção de material didático pedagógico para os professores das escolas indígenas da TI Xapecó para os anos iniciais do Ensino Fundamental.

6. Perspectiva de ampliação do Índice de Desenvolvimento da Educação das escolas envolvidas no projeto.

7. Publicação de obra contemplando as produções elaboradas durante o projeto.

8. Organização de seminários ampliando a relação das escolas com a comunidade acadêmica.

9. Elevação dos níveis de aprendizagem no Ensino Fundamental melhorando os índices de possíveis avaliações externas.

10. Proposição de SAEB diferenciado para aplicação nas Escolas Indígenas.

11. Fortalecimentos das práticas culturais e tradicionais Kaingáng.

12. Inserção no Currículo da Escola dos conteúdos pertinentes à tradição, memória e cultura em consonância com os princípios da Educação Escolar Indígena.

13. Atender a demanda de material específico solicitado pelos professores e alunos indígenas.

14. Estabelecer com maior oficialidade uma parceria que já vem ocorrendo entre UFSC/SED/GEREI/FUNAI.

15. Contribuir com a implementação de políticas públicas para as escolas indígenas.

16. Articulação entre educação básica, ensino superior e pós-graduação através da participação nos diferentes eventos organizados pelo projeto.

17. Indissociabilidade: ensino, pesquisa e extensão com produção de novos conhecimentos e tecnologias.

18. Interdisciplinaridade: história, linguística e educação.

19. Orientação docente.

20. Oportunidade na formação acadêmica, sendo a saída de campo um diferencial na pesquisa e formação profissional.

Bolsistas do projeto

Coordenação

Profª Drª Ana Lúcia Vulfe Nötzold

Pós-graduandos do PPGH/UFSC

Helena Alpini Rosa – Doutoranda

Cristiano Augusto Durat – Doutorado

Isaac Facchini Badinelli – Mestrando

Ricardo de Oliveira – Mestrado

Iniciação científica – Bacharelado e Licenciatura em História/UFSC

Aaron Fernando de Paula

Bruna Gama Gavério

Milene Félix

Nathan Marcos Buba

Yasmin dos Santos Sagas

Professores Educação Básica Terra Indígena Xapecó

Adilson de Oliveira – EIEB Cacique Vanhkrê

Claudemir – EIEB Cacique Vanhkrê

Dalgir Pacífico – EIEB Cacique Vanhkrê

Ercilio Gaspar – EIEB Cacique Vanhkrê

João Maria Pinheiro – EIEB Cacique Vanhkrê

Ronelsson Luiz – EIEB Cacique Vanhkrê

Terezinha Guerreiro Ercigo – EIEF M’bya Limeira

Colaboradores da Terra Indígena Xapecó

Osmar Barbosa – Cacique

Valdecir de Paula – Diretor da EIEF Paiol de Barro

Cézar dos Santos –Coordenador das Escolas Multisseriadas

Lirio Costa dos Santos – Diretor da EIEB Cacique Vanhkrê

Sirlei Alves de Assis – Diretora da EIEF Pinhalzinho

Pedro Alves de Assis – EIEB Cacique Vanhkrê

Getúlio Narsizo – EIEB Cacique Vanhkrê

Colaboradores da UFSC

Sandor Fernando Bringmann – Doutorando PPGH

Carina Santos de Almeida – Doutoranda PPGH

Guilherme de Almeida Américo – Mestrando PPGH

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