Teses de Doutorado Defendidas no Programa de Pós Graduação em História

2017

EDUCAÇÃO GUARANI: AS RESSIGNIFICAÇÕES HISTÓRICAS E CULTURAIS NAS RELAÇÕES SOCIAIS DA ALDEIA DE LINHA LIMEIRA, TERRA INDÍGENA XAPECÓ,SC

Helena Alpini Rosa 
Orientadora: Ana Lúcia Vulfe Nötzold

Resumo: Esta tese tem por objetivo compreender como se processam as relações sociais do povo e da comunidade, na perspectiva das questões que envolvem propriamente a educação das crianças Guarani, considerando e conhecendo como se realizam os processos próprios de aprendizagem, no intuito de entender os elementos da tradição e da cultura e suas ressignificações na história recente e no modo de vida da comunidade da Aldeia de Linha Limeira. Esta comunidade Guarani se situa na Terra Indígena Xapecó, no município de Entre Rios, Oeste do estado de Santa Catarina. A pesquisa se desenvolve pautada no entendimento dos elementos tradicionais da cultura Guarani, a produção e reprodução, bem como as ressignificações, na perspectiva da história do tempo presente, compreendendo a temporalidade ao período remanescente às primeiras famílias que formaram a comunidade na década de 1950 até 2016. Para este fim, a pesquisa foi realizada a partir dos princípios teóricos e metodológicos da Etnohistória e História Oral, estabelecendo continuamente um diálogo interdisciplinar da História com a Antropologia, a Arqueologia e a Educação. Foram realizadas entrevistas orais com pessoas que vivem na comunidade e com pessoas que tiveram alguma relação com a comunidade e com a temática aqui desenvolvida. Atas, relatórios, instrumentos escritos de levantamento de dados e o caderno de campo complementaram as fontes. Fontes bibliográficas de pesquisadores antropólogos, arqueólogos, educadores e historiadores permitiram e proporcionaram as análises e as reflexões que resultaram na tessitura que ora se apresenta. Inicia-se com a apresentação do povo Guarani e da Aldeia de Linha Limeira, perpassando pela diversidade cultural presente na vivência religiosa, na alimentação, na língua, na educação e nas mais diferentes relações estabelecidas dentro e fora da comunidade.

2015

TEMPO, MEMÓRIA E NARRATIVA KAINGANG NO OESTE CATARINENSE: A TRADIÇÃO KAINGANG E A PROTEÇÃO TUTELAR NO CONTEXTO DA TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM NA TERRA INDÍGENA XAPECÓ

Carina Santos de Almeida
Orientadora: Ana Lúcia Vulfe Nötzold

Resumo: Este estudo acerca dos Kaingang da Terra Indígena Xapecó orienta-se pelas relações estabelecidas do povo com o ambiente e seus desdobramentos, visa dessa forma apresentar os meandros da atuação da proteção tutelar no contexto da transformação da paisagem e as consequentes rupturas, impactos e/ou continuidades no modo de vida e no habitus social Kaingang. A temporalidade deste estudo conduziu-se a partir dos registros e descrições relacionadas aos Kaingang do século XVIII e alcança a contemporaneidade. Os encontros e desencontros dos Kaingang com não índios em terras meridionais foram registrados em descrições de cunho etnográfico e representam momentos decisivos na trajetória histórica do povo. Por outro lado, foi a partir dos oitocentos e, sobretudo, dos novecentos que a espacialização e a territorialidade Kaingang deslocaram-se visceralmente da condição de mobilidade para a de homo situs, impactando as relações do povo no tempo/espaço. A indigeneidade da paisagem marca as narrativas de história e memória dos Kaingang ressaltando a existência do tempo dos “antigos” e do tempo de “agora”. As reminiscências mnemônicas expressas entre silêncios, esquecimentos e lembranças descrevem os enredos das relações de contato e da proteção tutelar, bem como as instâncias constituintes do mundo Kaingang. As narrativas ressaltam o papel central do “mato virgem” e do “pinhalão” no modo de vida e no habitus social à medida que estes espaços são entendidos como elementos integrantes da tradição Kaingang. A tese elaborou e apresenta diversos produtos em história indígena e ambiental no que concerne a localização e a caracterização da TI Xapecó através de mapas e da perspectiva multi-temporal da composição da cobertura florestal. As sinuosidades da transformação do modo de vida e habitus social Kaingang e da paisagem da TI Xapecó são expressas nas múltiplas faces da proteção tutelar, que por meio do propulsor indigenismo brasileiro, possibilitou a grilagem, o esbulho e a espoliação dos índios do “Chapecózinho” ao mesmo tempo em que a inserção da TI na lógica do desenvolvimento econômico. A “marcha para a emancipação econômica” do Posto Indígena Xapecó a partir da gestão do patrimônio indígena percorreu momentos distintos e pautou-se na exploração das potencialidades naturais. O modelo de indigenismo rondoniano-varguista marcou um primeiro momento da proteção tutelar sendo procedido pelo indigenismo da FUNAI, que a despeito de seu início moralizante, permitiu à exaustiva exploração dos recursos florestais e inseriu as terras indígenas no sul do Brasil no contexto do nacional-desenvolvimentismo brasileiro. A exploração da madeira se encerrou na TI Xapecó e a proteção tutelar na figura do chefe de Posto perdeu definitivamente qualquer status de poder centralizador à medida que o protagonismo Kaingang passou a conduzir as práticas políticas e socioeconômicas locais.

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2015

ENTRE OS ÍNDIOS DO SUL:Uma análise da atuação indigenista do SPI e de suas propostas de desenvolvimento educacional e agropecuário nos Postos Indígenas Nonoai/RS e Xapecó/SC (1941-1967)

Sandor Fernando Bringmann 
Orientadora: Ana Lúcia Vulfe Nötzold

Resumo: Esta tese tem como objetivo suscitar reflexões sobre atuação tutelar do SPI entre os Kaingang na região Sul do Brasil, analisando as peculiaridades referentes aos contextos dos Postos Indígenas Nonoai (RS) e Xapecó (SC), entre os anos de 1941 e 1967. Por meio de pesquisa documental e bibliográfica, apresento informações sobre os primórdios da atuação tutelar nas duas áreas indígenas, ressaltando os principais obstáculos para a execução das políticas indigenistas nos primeiros anos do SPI nestes estabelecimentos. Destaco a conjuntura histórica que proporcionou a criação e a sistematização das modalidades educacionais e de trabalho agropecuário nos padrões do desenvolvimentismo rural presente entre as décadas de 1940 e 1960. Do mesmo modo, ressalto a representatividade deste órgão e de sua atuação entre os Kaingang dos dois PIs, buscando destacar de que maneira os indígenas se envolveram ou foram envolvidos nas estratégias de desenvolvimento agropecuário e educacional promovidas pelo SPI. Neste sentido, contribuem para as reflexões aqui propostas, os depoimentos orais de velhos Kaingang que vivenciaram este processo. Através de seus relatos, de suas percepções e de seus posicionamentos, busco avaliar a participação dos indígenas nas propostas do SPI. Em suma, com este estudo, pretendo explicar quais foram os principais efeitos das políticas indigenistas de caráter desenvolvimentista e de que forma as concepções particulares dos indígenas, dos funcionários do SPI e da própria sociedade regional envolvente, influenciaram no desenvolvimento de tais ações entre os Kaingang dos Postos Indígenas Nonoai e Xapecó.

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2012

O MOVIMENTO INDÍGENA NO OESTE CATARINENSE E SUA RELAÇÃO COM A IGREJA CATÓLICA NA DIOCESE DE CHAPECÓ/SC NAS DÉCADAS DE 1970 E 1980

Clovis Antonio Brighenti  

Orientadora: Ana Lúcia Vulfe Nötzold

Resumo: Esta tese é dedicada ao estudo do movimento indígena no oeste catarinense nas décadas de 1970 e 1980 e da relação estabelecida com a Igreja Católica na diocese de Chapecó. O referencial teórico que orienta este estudo segue as conceituações de identidade e memória fundamentadas na Etno-História e na História Indígena, percebendo o movimento indígena como estratégia de manter-se Kaingang. Centramos nossa análise nos mecanismos de resistência e reterritorialização, momento em que os indígenas rompem o cerco da reserva e tutela e expressam sua discordância na condução da política indigenista. Elegemos duas terras indígenas – TI Xapecó e TI Toldo Chimbangue – para efetuar nossa pesquisa e, partindo das duas TIs, analisamos as ações no território Kaingang. Em 1978 os Kaingang da TI Xapecó, articulados com comunidades Kaingang do Paraná e do Rio Grande do Sul, expulsaram centenas de famílias de arrendatários que ocupavam suas terras desde a década de 1940, e em 1985 os Kaingang do Toldo Chimbangue reconquistaram as terras invadidas desde a terceira década do século XX por famílias de camponeses que as haviam comprado de empresas colonizadoras. Retrocedemos na temporalidade a fim de compreender os antecedentes que permitiram as invasões, a perda da terra, a exploração agropecuária e as proibições de manifestações culturais. O movimento logrou êxito na reconquista das terras, mas não impediu a exploração da madeira, porque essa atividade era a principal fornecedora de dividendo para a renda indígena da Funai, a qual mantinha privilégios para algumas lideranças e chefias. Nos anos 1980 a Funai, através de ações planejadas e articuladas, dividiu o movimento indígena e o opôs à Igreja diocesana. Foi no horizonte da ação pela reterritorialização que reatualizaram a identidade e demarcaram a fronteira da etnicidade.